Pensar a educação dos filhos pautados no respeito às suas individualidades e sentimentos não deveria ser algo tão distante da realidade, no entanto nossa sociedade ainda está a passos largos de abrir mão da educação autoritária, aquela em que bastava um “olhar” dos responsáveis para que a criança se sentisse intimidada e há quem defenda que essa é a forma “correta” de educar. Talvez fosse a maneira mais fácil, assim não se teria uma criança com tantos posicionamentos, contrariando regras e desafiando adultos em suas fases de desenvolvimento. O objetivo aqui não é abrir o debate para quem está certo ou errado na educação de seus filhos – até mesmo porque já nos culpamos demais quando algo não sai como esperado, abordar este tema é um convite para reflexão e desconstrução de maneiras de educar que deveriam ter ficado no passado.
Para Maya Eigenmann, em seu livro “A raiva não educa, a calma educa”, a Educação Respeitosa é definida como uma relação existente entre um adulto e uma criança, onde ambos têm igual valor. O adulto entende que a criança precisa dele e se coloca à disposição, respeitando sua total integridade.
Acredito que você, leitor, já tenha ouvido ou até mesmo mencionado a famosa frase de senso comum “apanhei e não morri”, nesse caso a pergunta que fica é: e era para matar? Se esse não foi o objetivo, infelizmente algumas de nossas crianças não tiveram a mesma sorte, basta lembrarmos dos casos chocantes de crianças que foram mortas pelos pais ou responsáveis em nosso país. Aí você deve estar pensando: “não bato no meu filho com essa pretensão”, porém, a partir do momento em que se escolhe usar formas de violência para punir uma criança, você a expõe a fatores de risco, inclusive o mais cruel deles.
Na obra “O livro que você gostaria que seus pais tivessem lido (e seus filhos ficarão gratos por você ler)” Philippa Perry menciona que a forma como criamos nossos filhos, diz muito sobre como fomos criados e isso afeta nossa postura como pais. Os erros que vamos cometer — principalmente aqueles que nunca queremos cometer — e o que fazer a respeito.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) nos diz que crianças e adolescentes têm direito de serem educados e cuidados sem uso de castigo físico, tratamento cruel ou degradante, ameaça ou outras formas de violência, seja sob pretexto de correção, disciplina ou educação. Se a nossa legislação já nos dá essa orientação, por que é tão difícil não utilizar formas de violência com os próprios filhos? Arrisco a dizer que a falta de controle emocional próprio, falta de entendimento sobre fases do desenvolvimento infantil e questões culturais, colaboram para que a violência contra crianças e adolescentes seja naturalizada, praticada e mascarada como forma de “educar”.
A partir do momento em que nascem os filhos também nascem os pais, imaturos para a função, pois isso se aprende no processo, não há receita. É neste momento que muitos de nós estamos sujeitos a repetir padrões e formas de como fomos educados, que podem não ser os mais adequados, talvez partindo do princípio que “se funcionou comigo vai funcionar com meu filho também”. Se a maneira que você foi educado te respeitou e não foram utilizadas formas de violência (não só física, psicológica também), tudo bem, siga neste caminho. Mas, quando as lembranças da infância não são as melhores? E quando é necessário superar traumas ocorridos na infância? A importância de romper o ciclo da violência na criação dos filhos se dá justamente na busca por relações mais saudáveis, onde o respeito ao outro enquanto ser humano em evolução se sobressai. Caso esse seja seu primeiro contato com a educação respeitosa, não se culpe por ter tido atitudes contrárias ao que se propõe, aprender e
reaprender faz parte do processo, o importante é usar o conhecimento para mudar suas reações. Seus filhos vão te agradecer no futuro!